top of page
Foto do escritordanielsa510

À la Cida: o cinema como reflexão acerca do absurdo


Direção: Lucas Santiago. Assistência de Direção: Vinícius Rodrigues. Roteiro:Lucas Santiago, Bruno Paes. Montagem: Raiane Ferreira, Lucas Santiago. Direção de Fotografia:Bruno Bressam. Som: Gabriel Goersch, Lara Fontenele, Wil Junior. Produção: Camila Maraschin. Direção de Arte:Julia Rabay.



A tradição que coloca o Ceará como uma “terra do humor”, há tempos deixa resquícios de uma vocação muitas vezes autoritária. Somos mesmos apenas isso? Certamente não. Mas quando levamos esse traço ao nosso fazer cinematográfico, é sempre revigorante quando notamos que os novos realizadores do Estado buscam imprimir outras nuances nas produções de gênero, a exemplo do que Lucas Santiago conseguiu com sua afinada comédia, À la Cida (2017).


O curta-metragem conta a estória de Alemão (Nonato Carvalho), dono de um restaurante que se vê numa enrascada quando um de seus funcionários, Nonato (Pedro Gonçalves), sofre um acidente de trabalho e morre no estabelecimento. Junto com seus outros dois colaboradores e parceiros, Cida (Andrea Martins) e Zeca (Giovanni Marsallis), eles terão de se livrar do corpo às vésperas de uma auditoria da vigilância sanitária.


Certeiro e despretensioso, o filme é uma comédia construída com base numa dinâmica dramatúrgica que toma referências do thriller e do humor escatológico para nos contar do quanto nosso cotidiano pode ser absurdo. Falar nessa escala, no entanto, não significa dizer das coisas que não se pode ocorrer, mas exatamente daquelas que se tornam possíveis em nosso dia a dia.


Daí o fato de toda a construção do curta ser tão naturalista. Há uma jocosidade na fala dos personagens, mas nada que soe como algo caricato. O tom da comédia é parcimoniosamente calculado e empregado para a potencialização do filme. E aí, a representação do bar com todas as suas nuances, desde o cartaz escrito com erros visíveis de gramática, até as figuras que ali se encontram, formam uma espécie de microcosmo daquilo o que a periferia em parte é.


Sem traços de estereotipia, Lucas desenha um sutil quadro dos tipos que podemos encontrar em vários de nossos bairros de Fortaleza, entre as mocinhas que tentam tirar vantagem da beleza, como Carilnha (Gleh Silva) ou dos vigilantes noturnos, assim como o desconfiado Jozias (Marcos Rocha).


Essa memória afetiva que temos é o que nos aproxima desses personagens e igualmente é o elemento que nos incita tanta empatia quando os vemos em cena. Nós conhecemos essas pessoas. E representar isso no filme de modo não caricato é certamente um dos maiores méritos de À la Cida. Apesar do fator “absurdo” que dá o tom da obra.


Afinal, solucionar um problema envolvendo a morte de alguém em um estabelecimento de trabalho a partir da escatologia, ou daquilo o que se pode estar ligado “ao fim do mundo”, é um modo de o trabalho assinar muito claramente qual o seu tom: se todo estado de coisas numa comédia é idealizada para não se levar à sério, então vamos com isso até o fim. Mesmo que isso implique servir partes de um cadáver como prato do dia.


Nas palavras do próprio Lucas, o curta foi pensado para ser uma estória divertida. E o foi. Como uma produção que nasce nos laboratórios de uma universidade, são trabalhos como este que nos afirmam cada vez mais que para a existência do nosso cinema, basta que coloquemos as ideias no papel, montemos nossas equipes, entre amigos e técnicos de que dispomos, e a arte ocorre.


Assista à íntegra do filme, abaixo





11 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page