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Vingadores: Ultimato – Considerações de uma jornada conclusa


Direção: Joe Russo, Anthony Russo. Roteiro: Christopher Markus, Stephen McFeely. Montagem: Jeffrey Ford, Matthew Schmidt. Direção de Fotografia: Trent Opaloch. Design de Produção: Charles Wood. Música: Alan Silvestri. Efeitos Visuais: Brian Adler Produção: Victoria Alonso, Jon Favreau, Kevin Feige.


Vingadores: Ultimato (2019) é um filme difícil de ser abordado. A rejeição em torno dele, obviamente, só não foi superada pela forte expectativa nutrida por 2/3 do público entre o intervalo de abril de 2018 a abril de 2019. Deixando de lado a polarização entre o que foi/é afeto e antipatia, concentramo-nos no filme enquanto matéria e partimos de um ponto bastante objetivo. O longa é, sim, um dos melhores trabalhos do subgênero de super-heróis já feito nos anos 2000. Pode não ser a melhor obra da Marvel Studios, mas opera como um dos mais bem realizados projetos dos últimos 11 anos.

Após o eventos cataclísmicos de Vingadores: Guerra Infinita (2018), a Terra encontra-se em ruínas. Com a ajuda dos remanescentes aliados, os heróis se reúnem mais uma vez em uma tentativa final e desesperada de reverter as ações de Thanos (Josh Brolin) e restabelecer o verdadeiro equilíbrio no universo.

Ultimato trata-se de uma conclusão da saga iniciada em 2008, com Homem de Ferro (2008), e por isso assume esse tom de narrativa “épica”. As aspas falam da importância de relativizarmos o termo, sobretudo quando lidamos com longas adaptados de Histórias em Quadrinhos (HQs). Não estamos diante do épico enquanto gênero aqui, mas a grandiosidade do filme pode ser acurada a partir de perspectivas paralelas. De fato, nenhuma outra obra do Universo Cinematográfico Marvel (UCM) havia atingido em termos práticos (forma) e conceituais (sentido), o estágio que esse 22º filme da franquia alcançou.

Sua duração de 3 horas e 02 minutos, a quantidade de personagens envolvidos na trama, que também se constitui a partir de coligados arcos dramáticos, e a modulação entre um tom de naturalismo dramático e variação tonal cômica, validam essa estrutura que alça o longa um pouco além do status assumido nas obras anteriores. No quarto trabalho assinado por Joe e Anthony Russo, esses personagens encontram uma aventura que possui o tamanho das suas próprias características espetaculares de ser.

Essa espetacularização, por outro lado, se recodifica por meio de outros códigos. Se em 2012, “Os Vingadores” apresentaram uma narrativa centrada especificamente em elementos como as explosões e confrontos, de certo modo, gratuitos entre os personagens, em “Ultimato”, esses mesmos fundamentos se reconfiguram e tornam-se mais complexos. Percebemos camadas mais densas que preenchem os eventos vivenciados por essas figuras.

Assim como em Guerra Infinita (2018), há uma vertente de seriedade que reveste a trama principal da estória. Os heróis encontram um modo de reaver as perdas ocorridas naquela narrativa anterior, e partem para uma última missão a fim de restaurar a realidade alterada pelas decisões do antagonista. Nisso, temos pontuais inserções cômicas entre cenas, mas nada que altere o sentido de sobriedade daquilo o que os personagens precisam fazer. Esse compromisso não é sabotado pela piada, assim como Joss Whedon equivocadamente fez, sobretudo em Vingadores: Era de Ultron (2015).

Quando o primeiro teste para a viagem do tempo pelo espaço quântico ocorre, há um tom cômico revestindo todo o segmento. Vemos três versões de Scott (Paul Rudd) de tempos distintos, mas a tensão acerca de algo que irreversivelmente possa dar errado nisso tudo se sobressai em toda a sequência. A trilha sonora de Alan Silvestri evoca um senso de urgência e aventura, trabalhando quase que como uma reposta direta à notável preocupação de Steve Rogers (Chris Evans).

Mas é na ideia de uma dinâmica dialética entre os personagens que os Irmãos Russo conseguiram imprimir um caráter mais sóbrio às personas desse universo. Eles são extraordinários, possuem poderes sobre-humanos, mas é na capacidade de agenciarem seus conflitos que essas histórias ganham maior notoriedade. Esse é u traço aperfeiçoado desde Capitão América: O Soldado Invernal (2013), passando por Guerra Civil (216) e Guerra Infinita (2018).

O diálogo de Tony Stark (Robert Downer Jr.), recém resgatado do espaço, com Rogers, é um exemplo de como essa tensão dialógica é construída em Ultimato. Para além do senso de agradecimento por estar vivo, resta no gênio milionário o forte rancor por ele ter falhado de impedir Thanos, além de não ter contado com Rogers. A cena é uma crescente. Stark repassa os eventos ocorridos anteriormente até o momento em que ele descarrega parte dessa ira no então companheiro de equipe. Eles não estão “brincando”. Toda a cena tem forte carga dramática e se justifica pelos eventos traumáticos por que esses personagens passaram.


Para além disso, um dos grandes méritos do filme é, portanto, sua concisão. Há um objetivo a ser alcançado (a recuperação das joias do infinito) e um obstáculo a ser batido (Thanos). Dentro disso, o longa se divide em diferentes arcos narrativos para dar conta dessa estrutura. Os heróis partem para uma ofensiva no início do primeiro ato. Todo o segundo ato - certamente o melhor de todo o longa - ocorre entre a forma como eles lidam com as suas perdas e os planos de retomada daquilo o que fora perdido. Logo, o terceiro ato, gira em torno da contra-ataque dos vilões e o epílogo traz o desfecho daquilo o que foi a Saga do Infinito do UCM e o encerramento de um importante capítulo na história do cinema de super-heróis nesse século.

Isso faz de Ultimato um filme impecável, ou mesmo, considerá-lo o melhor já feito no subgênero e em todo o UCM? A resposta é não. O filme tem, não diríamos problemas, mas leves escolhas que o recolocam dentro de uma espécie de paradigma desse tipo de obra. Toda a batalha final é inegavelmente climática, mas sua força maior vem da sequência anterior. E quando todas as esperanças pareciam ter sido perdidas, o triunfo dos heróis se estabelece e alcança seu pico máximo até o momento da “reunião”. Após isso, o conjunto de cenas em pouco se diferem daquilo o que já vimos em trabalhos como O Senhor dos Anéis (2001-2003) ou Star Wars (1977-).

Apesar disso, e por ter sido realizado com uma seriedade extrema, do lançamento dos primeiros trailer promocionais ao esforço final do filme na busca por se tornar o longa com maior arrecadação em todo o mundo, Vingadores: Ultimato merece um lugar de destaque na linha do tempo do subgênero. Isso é algo que toda análise precisa considerar, independente da simpatia ou não por essas obras. “O filme de boneco”, como colocam os amantes de um “cinema puro”, é só a parte de uma engrenagem burra incapaz de se libertar do julgo reacionário. É a escolha errônea que prefere acreditar na polarização em vez da pluralidade de trabalhos em uma arte tão diversa como o cinema é.

Essa é parte de uma discussão maior, claro. E na esteira da capacidade de lidarmos com narrativas que aliam ludicidade com feixes de reflexão sobre o que é ser humano e quais as nossas potencialidades enquanto isso, são trabalhos como esse que nos mostram o quanto os filmes que adaptam HQs podem ser mais. Podem superar o humor gratuito. Nos lançar uma ideia de que, se enquanto humanos chegamos até a contemporaneidade, foi devido à nossa capacidade de usar a inteligência contra as forças irrefreáveis da natureza.

O embate de Tony contra Thanos diz muito disso. Um combate corpo a corpo seria inviável. E o vilão, na crença de que suas ideias corrigirão a ordem das coisas, se auto declara inevitável, mas o homem, dotado de sua sabedoria singular, pode dobrar essa figura mítica para reafirmar a força que a humanidade tem inserida na balança do universo. Portanto, você consegue ver quanta dialética há em uma narrativa como essa? E como ela pauta questões de puro existencialismo, a partir daquilo o que o subgênero de super-heróis propõe em seu despretensioso modo de contar essas aventuras? Portanto, como não considerarmos um filme como esse? Como desconsiderarmos essas estórias? Fica essa questão.

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