top of page
Foto do escritordanielsa510

Nebraska: Os caminhos da narrativa clássica na contemporaneidade


Direção: Alexander Payne. Roteiro: Bob Nelson. Produção: Doug Mankoff, George Parra. Neil Tabatznik. Julie M. Thompson. Fotografia: Phedon Papamichael. Montagem: Kevin Tent. Música: Mark Orton.



Nebraska (2013) escrito por Bob Nelson e dirigido por Alexander Payne é um filme que atua positivamente fora da curva, se o considerarmos como obra que emerge dos mainstream da cinematografia norteamericana. Ele é um drama que balanceia bem variações tonais da comédia dentro de uma narrativa contada de modo muito sólido e fluido.

Quando um pai, Woody Grant (Bruce Dern) e seu filho, David (Will Forte) embarcam em uma jornada para reivindicar um prêmio de um milhão de dólares, o que começa como uma tarefa simples, torna-se uma busca de um caminho à redenção dos laços familiares. É claro que essa é a sinopse básica do longa, e para além dessa apresentação, o filme é revestido de inúmeras outras camadas que o dotam de uma força incrível.

Considerando a dimensão dramática da estória e seu sentido, em termos narrativos, Nebraska nos convida inicialmente a sua apreciação pelo caráter plástico de suas imagens. E aí, o preto e branco da fotografia assume uma posição muito importante. Ela ultrapassa a conotação estética e passa a operar também conceitualmente na mensagem a que o filme se propõe contar.

O roteiro guia uma narrativa clássica, com personagens que assumem objetivos claros e que, se inseridos em um trabalho fotograficamente “clássico” (em cores, por exemplo), seriam notados sem destaque maior. Mas a monocromaticidade da escala de cinza nas imagens apresentadas distinguem a obra no contexto do qual nos referíamos no início do texto.

E aí, já avançando rumo ao seu sentido, o longa se assume como um drama, considerando a dureza do cenário em que os personagens se inserem. Mas que também concentra uma leveza de plano de fundo que atenua essa aparente tensão e pressão da vida desses personagens. Mas quem são eles? E o que os reveste em uma perspectiva contextual?

Esses homens e mulheres descritos no filme são aqueles que se encontram na maioria das vezes à margem da representação na cinematografia norte americana. São homens e mulheres comuns. De narrativas e jornadas comuns, e por essa mesma razão, tão extraordinárias quando consideramos os interesses ordinários do cinema mainstream dos Estados Unidos.

E apesar do traço comum e naturalista desses personagens, a direção de Alexander Payne se distingue igualmente por modular o trabalho a partir de variações tonais da comédia dentro do escopo dramático que o filme evoca. Não há exageros em relação a isso e as transições entre esses dois tons são cirurgicamente tratados, assim podemos dizer.

É claro que, diferentemente do que parte da crítica americana falou a respeito de Nebraska, o filme não é nenhuma “obra-prima”, exceto quando estes mesmos críticos olham para o longa na perspectiva norte americana. O filme é sim uma boa obra. Mas que em uma análise mais racionalista, emula em primeiro plano trabalhos que, ai sim, aparecem como obras que buscaram uma maior investigação das potencialidades que a narrativa audiovisual tem a dar a partir dos dispositivos de que ela se forma. Esse é o caso do excelente “Uma História Real” (1999), de David Lynch, por exemplo.

Nada disso, entretanto, diminui a força do contexto que reveste o Nebraska. E ai fale-se da acertada escolha do elenco, com atuações muito particulares de cada membro do casting, seja dos nomes que protagonizam a estória, como na singular construção de um personagem tão cativante como do teimoso Woody Grant, até aqueles que atuam como coadjuvantes, como é o caso do antagonista Ed Pegram (Stacy Keach). E disso é que o bom cinema se faz, guardadas suas escalas de criação e independente de jugos ou nacionalidades das produções.

4 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page