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Megalópolis: e o cinema destituído de métrica consequencial

Crédito: IMDb

Direção: Francis Ford Coppola. Roteiro: Francis Ford Coppola. Direção de Fotografia: Mihai Malaimare Jr. . Som: Kaylee Yacono. Design de Produção: Milena Canonero. Efeitos Especiais: Austin Cody Griffin, Walker Rice. Música: Osvaldo Golijov, Grace VanderWaal. Produção: Fred Roos. Montagem: Glen Scantlebury, Robert Schafer, Cam McLauchlin. Maquiagem: Valli O'Reilly


Acho que para um projeto gestado no curso dos últimos 40 anos, ainda resta muito ao filme em termos de estrutura e no tocante à sua esfera narrativa, mesmo. Eu entendo a intenção do Coppola de tensionar a política enquanto esse polo hiper complexo e imerso em grandes complicações, mas esse é um gancho que parece nunca se encaixar dentro da estória de um modo orgânico ou mesmo criativo.


Processualmente falando, é um trabalho que lembra muito Assassinos da Lua das Flores, mas que também se difere deste em algumas frentes. Uma delas ligada à semelhança da carga narrativa, onde os eventos vão se sucedendo sem que, deles, se presuma alguma reflexão mais ampla para além da obviedade incrustada nos seus corpus (a violência, a ganância, a corrupção, a covardia, o machismo, etc.).


No campo do contraste, a obra de Francis Ford Coppola opera com o ônus de se permitir experimentar mais em termos, tanto da plasticidade do componente imagético, quanto na concepção do modo como essas imagens se agrupam numa montagem que articula até bem um vasto apanhado de sequências que dão a ver um realismo de uma pós-modernidade em ruínas e uma estética surrealista de um mundo utópico a ser ainda implementado, ou que reside apenas na cabeça do protagonista, na figura de Cesar (Adam Driver).


O problema é que, justamente por essa falta de tato ou ideação Interrelacional entre o sentido, os conceitos e a forma do filme, o trabalho ao fim nos pareça inflado. Não por ser um épico, coisa que ele não é, exatamente pela escrita rasa e frágil do modo como os eventos vão se escalonando na trama.


Porque, dos sonhos do protagonista para mudar a realidade daquele mundo, ou melhor, daquela América enquanto ponta da civilização ocidental ainda, pouco conseguimos visualizar efetivamente como o personagem organiza seus anseios para a consolidação dessas metas.


As coisas chegam a um ponto onde as situações apenas se "dão", sem uma métrica consequencial, por exemplo. Ora, se nas cerca de 2 horas e 20 minutos do filme, o embate entre Cesar, Clodio e Cicero é a linha mestra por onde a narrativa se modularia, a resolução desse embate parece não obedecer um fluxo dialético, criativo, ou ainda que catártico, pelo menos.


E em cinema, as coisas apenas se darem é a pior forma de se colocar os argumentos em defesa das decisões ali tomadas. Sobra muito a respeito da ambientação dessa cidade, cujo título deveria evocar o protagonismo da estória em si, mas isso também não acontece, bem como dos alinhamentos que nos levariam junto a esses personagens, para além de uma concepção do bem e do mal.


No fim de tudo, de fato, só sobra um esboço do que uma obra com ambição viria a ser. É quase bobo sua finalização, uma coisa meio sem espírito mesmo, descartável não por ser utópica, mas por só se permitir ser uma esquete daquilo o que o visionarismo no cinema pode ainda vir a ser. Infelizmente uma acepção para isso Coppola no alto dos seus 85 anos, aqui, parece não ter.

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