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Mamata: o grito uníssono de uma obra resistente


Direção: Marcus Curvelo. Roteiro:Marcus Curvelo. Amanda Devulsky. Montagem: Marcus Curvelo. Amanda Devulsky.


De onde vem a melancolia que inunda um filme como Mamata? Certamente da situação de estado crítico a qual o Brasil se insere há alguns anos. Para além de pontuar o que vai mal, seja na escala macroinstitucional e interpessoal, esse é um trabalho que se solidifica no entendimento do seu lugar a partir da dinâmica que rege a zona de convergência entre o filme de protesto, o filme de tese e o de apartamento. Encerrado nisso tudo, um dos lugares de Mamata talvez seja fora da esfera politicamente correta e essa é uma das suas maiores forças. Essa reflexão diz muito sobre o exercício persistente de uma cinematografia nacional já pós industrializada. Para retomarmos o discurso de Cezar Migliorin, vale destacarmos esse ato de realização que não se priva de apontar suas reais intenções. Assim como a marca da cerveja, cujo rótulo aparece abertamente no plano, o patinho amarelo da Federação das Indústrias do Estado do São Paulo figura como uma forte metáfora do filme, escancarando uma crítica à hipocrisia de uma classe média em uma nação de valores parciais. E se um dos piores lugares para o cinema se faz na alça do politicamente correto, este é um filme que se percebe muito consistentemente em toda sua autoconsciência. Seu protagonista não é uma figura idealizada. Entendemos parte das suas motivações, assim como nos damos conta daquelas que justamente o impedem de seguir a frente. O suspiro forte dado por ele na escuridão da sala iluminada apenas pelo display do notebook é o índice primal dessa condição.Se tudo vai mal, isso não se deve à exclusividade da conjuntura. “Tu é preguiçoso né! Tu não acorda cedo, cara. Tu dorme de 12 a 14 horas por dia”, lembra a namorada, advertindo-o sobre a possibilidade de ambos dividirem um apartamento nos Estado Unidos da América. Na construção desse herói falho, portanto, é que o curta encontra uma janela para corajosamente nos dizer das fraturas que recobrem essa figura. Mais que isso até, ele é o avesso diametralmente oposto desse esboço de nação. Ele é o anti discurso retroalimentado a partir dos traumas que o moldam (e nos moldam) para o bem ou para o mal. Se a teoria de Adirley Queirós de que todos os nossos filmes tendem a voltar-se contra nós em um intervalo de 10 anos, fica o desejo que a narrativa de Mamata revolte-se em forma de um novo contexto nesse meio tempo. E que se projetado em 2027, emirja do lugar de um Brasil outro. Que ele seja a própria sombra em negativo das engrenagens tóxicas que corroem a dinâmica sociopolítica dessa nação no atual momento.Essa será a prova maior de que, assim como o personagem de Marcus Curvelo, esse país não desistiu. Foi em frente. Resistiu.

Assista ao filme na íntegra abaixo:


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