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La Chimera: uma transformação prática no trato com o outro

Crédito: Toronto International Film Festival

Direção: Alice Rohrwacher. Roteiro: Alice RohrwacherMontagem: Nelly Quettier. Direção de Fotografia: Hélène Louvart. Produção: Carlo Cresto-Dina. Direção de Arte: Alessandra Frigato. Efeitos Visuais: Dario Currò. Som: Xavier Lavorel.


Ter algo que se queira muito alcançar ou se deseje apenas conquistar em um nível saudável de busca pode ser um motivo muito instigante ao cinema em linhas gerais. Para Alice Rohrwacher, esse sentido de busca é um dos vetores que orienta boa parte das suas obras.


De um cinema que dialoga com uma perspectiva de emancipação na relação com o conjunto de outras obras manifestas neste nosso tempo. Interessante refletirmos sobre a própria estrada percorrida pela diretora na execução de um caminho em realização mesmo.


Porque, se de "Corpo Celeste" (2011) à "Le Pupille" (2022) percebemos uma rota que a diretora faz ao encontro de uma cinematografia do aprofundamento em duas vias. Uma muito ligada ao campo conceitual do universo onde esses personagens estão inseridos e outra relacionada ao modo como essas estórias são relatadas, construídas, imaginadas.


Em tudo isso , dá-se a materialização de um fazer da reforma intrínseca dos tipos e das construções de cena a eles vinculadas. Neste mais recente filme, a luz e a sombra coexistem não para uma construção de consensos, mas em maior força, para o estabelecimento de um estudo sobre as forças da nossa humanidade em suas mais distintas vertentes.


Ela não está interessada em estabelecer dualismos que apenas coloquem esses universos e suas figuras em contraposição: bem e mal, pobreza e riqueza, razão e insanidade, por exemplo. Há uma ideação sobre a importância de se manter seguro no entendimento dos nossos valores diante das nuances partilhadas ou confrontadas ao longo das nossas existências.


Mas, novamente: nada colocado como uma mensagem ou encenação carregada como uma simplista exarcebação de uma massa ou proposta celebratória de uma massa ou um ser na sua individualidade. Nos comovemos com o estado de Arthur e aonde suas escolhas o levam ao fim da trama.


Ele, em verdade, é um exemplo exato dessa sofisticação ficcional cuja missão, ao que tudo indica, nos leva a uma compreensão plena de como estar no mundo para fazer desse lugar, que já não se limita ao campo da ficção, uma experiência para as transformações das práticas na lida com o outro.


Saber estar junto é, nesse caso, entender também o momento de cortar o laço, encerrar o processo. E ainda que o percurso nos leve a uma decisão sem volta, a lição é se perceber onde a luz pode estar a nossa frente ou acima das nossas cabeças.


Bastando que para isso, vejamos a saída no fio que atravessa os planos entre essa vida e a vivência para além dessa da materialidade que nos rodeia. Esse é o cinema da emancipação interpretativa.

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