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Jurado Nº 2: a elevação de um existencialismo crítico

Crédito: Warner Bros. Pictures

Direção: Clint Eastwood. Roteiro: Jonathan A. Abrams. Direção de Fotografia: Yves Bélanger. Som: Steven A. Morrow. Design de Produção: Ronald R. Reiss. Efeitos Especiais: Lee R. LaCailleMúsica:  Mark Mancina. Produção: Jessica Meier, Tim Moore, Matt Skiena, Clint Eastwood, Adam Goodman. Montagem: Joel Cox, David S. Cox.


É revigorante testemunhar a forma como Clint Eastwood segue pontuando os dilemas éticos nos seus filmes e incorporando isso conceitualmente naquilo o que poderíamos chamar de uma obra constituída a partir do olhar de um autor que ainda ama o que faz.


Lidar com o conflito ético parece ser a matéria base de onde o filme tira toda sua força. Centrado no personagem principal, a questão sobre fazer o que é certo na dinâmica do tecido social em detrimento daquilo o que pode ocorrer na esfera da vida pessoal e individual é a linha que conduz a narrativa.


Ao rejeitar uma lógica espetaculosa de abordagem e uma vez centrando-se numa espécie de racionalidade diegética e formal, Clint sutura todo excesso em favor das possibilidades que a estória pode dar a ver.


Toda a construção narratológica ampara-se numa premissa naturalista, calcada na realidade, mas esse realismo não se resume a determinados clichês de mediação, como por exemplo, a relação que a mídia poderia ter na formulação de algum ponto de vista que seja.


Tudo parte e se encerra na dinâmica e nos efeitos das decisões que o júri, os advogados e o Estado decidem tomar. Fazer o certo ou escapar ileso da penalidade da lei pode ser um indutor da estória, mas não a resume ou organiza o olhar do espectador para possíveis "lados a torcer".


O debate proposto vai além do maniqueísmo sobre quem é bom ou ruim, quem faz o bem ou mal. Antes, há um jogo sobre os lados da história e da própria ideologia nos nossos tempos. Direita e esquerda, ou melhor, conservadores e liberais (nos Estados Unidos da América) se dissolvem dentro das suas próprias convicções e certezas semiabsolutas.


O filme não é sobre dualismo, na verdade, a filmografia de Eastwood nunca se reduziu a isso, superou-se, sempre. Mais vale pensarmos num sistema de inversão de polos, lados de uma mesa retangular. Esse é o verdadeiro paradigma do thriller político contemporâneo.


Colocar uma dúzia de palavras pautadas nas bocas de meia dúzia de personagens, tipos comuns da vida pós-moderna pode ser um exercício de fácil condução.


Excepcional é organizar uma cadeia de pensamentos em fluxo e mesmo que em volta de um único fato - a morte de alguém -, para contorcer perspectivas, modular bandeiras em detrimento de uma trama meramente celebratória. Mais do que consciência e coragem para se fazer isso, é preciso entender para que serve a arte da narrativa cinematográfica.


Não é sobre convencimento, talvez mais em relação à ventura da dúvida. Ao acaso que coloca as partes da criação em lados opostos daquele onde o jogo começou (ou do mesmo lado) a depender da posição em que a mesa esteja estabelecida um pouco antes dos créditos finais subirem à tela. Isso é Clint Eastwood.

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