Direção: Christopher Nolan. Roteiro: Jonathan Nolan, Christopher Nolan Montagem: Lee Smith. Direção de Fotografia: Hoyte van Hoytema. Produção: Lynda Obst, Emma Thomas, Christopher Nolan. Som: Craig Berkey. Efeitos Visuais: Ann Podlozny. Música: Hans Zimmer. Design de Produção: Nathan Crowley.
Interestelar (2014) até apresenta um conjunto de coisas de modo articulado ao longo de todo o primeiro ato. Principalmente em relação àquilo que é utilizado enquanto ambiência e contextualização da história mesmo.
Nisso, podemos aferir que a estratégia dos depoimentos do falso documentário é algo que incorpora esse sentido de uma justa sobriedade da narrativa. É algo que certamente Christopher Nolan jamais tinha inserido dentro de nenhum outro projeto dele.
Dramaturgicamente falando, essa primeira parte certamente é a menos desalinhada de todo o filme. Impressiona um pouco ver como, aqui, ele ainda se preocupava tanto em hiper-racionalizar tudo em uma tentativa de encaixar a condução dos eventos da estória a partir de explicações auto-expositivas.
E curiosamente, os momentos em que isso não acontece são aqueles onde talvez o próprio preciosismo da escrita do diretor e seu irmão não se atentaram a determinados detalhes ou simplesmente não conseguiram dar a atenção necessária nesse sentido.
A ideia da "nova Terra" em Saturno ilustram bem isso. Da mesma forma que em "Inception" (2010), a concepção opera só como um breve comentário pictórico ou uma situação expositiva a respeito da "mágica" em torno disso. É insuficiente.
Rever o filme depois de uma década ou duas, portanto, certamente não deve sanar ou reverter a impressão que ficamos em relação a ruídos dessa natureza. São questões de ordem da própria estrutura fílmica e, portanto, irretornável.
Todo o conjunto de alívios cômicos, por exemplo, são horríveis: da cena da "Murph Adulta" atirando papéis de pesquisa ao ar e gritando: eureka! à enfermeira rindo de uma piadinha do "old Cooper". São construções constrangedoras. Pontos de contradição explícitos de uma obra que se projeta justamente hiper-racionalizada e se pega amordaçada nesses tipos de cacoetes interpretativos.
Mas para um realizador que acredita ser a raça humana a única forma de vida existente em uma realidade composta por inúmeras galáxias, esse tipo de desvio interpretativo se equaciona por si mesmo.
Ademais, a experiência do cinema em termos do evento nas condições ideais, tais quais numa sala projetada para isso, se compensa em instantes pontuais. Parte da sequência da visita ao planeta das ondas gigantes ou na sucção através da Gargantua elucidam isso bem demais.
Dentro de uma sala IMAX, é como se todo o nosso corpo se projetasse para dentro da tela porque a imersão é absurda. Isso não há como se negar.
Mas aí quando a montagem começa a operar por meio dos sucessivos cortes e retornos consecutivos para os closes, primeiros planos e contra planos dos personagens (certamente os elementos mais secundários possíveis nos casos dessas sequências de ação) o efeito cessa, somos obliterados do cinema enquanto sensação mesmo e arrastados para o vazio do racionalismo desmedido da "visão" do diretor. Fim.
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