Direção: Jon Favreau. Roteiro: Justin Therouxr. Montagem: Dan Lebental, Richard Pearson. Direção de Fotografia:Matthew Libatique. Produção: Louis D'Esposito, Kevin Feige. Música:John Debney.
A segunda década dos anos 2000 foi marcada por um conjunto de filmes que moldaram um prolífico período para as obras do sub gênero super-heróis. E se a DC junto à Warner Brothers se firmava junto à crítica e ao público a partir dos trabalhos de Christopher Nolan e Zack Snyder, a Marvel Studios aos poucos ia buscando o aperfeiçoamento da sua própria fórmula de produção muito representada nesse período por Homem de Ferro 2 (2010).
Com o mundo agora ciente de sua identidade como Homem de Ferro, Tony Stark (Robert Downey Jr.) deve enfrentar tanto sua saúde em declínio quanto um misterioso homem chamado Ivan Vanko, figura que estaria ligado ao legado de Howard Stark (John Slattery).
Apesar de ser uma continuação direta de Homem de Ferro (2008), este filme tem a interessante marca de ser uma obra cuja consistência surge das referências adaptadas pelas Histórias em Quadrinhos. O que é interessante porque o longa carrega na sua gênese um norte muito bem definido. A arte de Stan Lee e Jack Kirby são notadas em pontos muito bem definidos na obra. A começar pelo arquétipo do seu protagonista.
Afinal, quem é o herói desta narrativa? Certamente, o gênio, bilionário e filantropo, Tony Stark. A diferença reside no fato de que, nessa estória, ele terá de enfrentar a si próprio antes de encarar qualquer ameaça externa. Há uma busca por uma maior humanização do homem em questão. E a exemplo das clássicas HQs de 1979 publicadas por David Michelinie e Bob Layton, tony precisa exorcizar os seus demônios internos para então restabelecer a ordem das coisas ao seu redor.
O filme lida muito bem com todos esses aspectos. É interessante ver que, considerando o ano de 2010, muito da força que o filme carrega em si vem de um razoável exercício de roteirização. Ou seja, o longa é bem divido dentro da sua construção dramatúrgica.
Há pelo menos três grandes arcos do qual ele se constitui. O primeiro formado pela queda de Tony a partir de seus vícios e problemas de saúde. O segundo constituído pelo restabelecimento dessa condição perdida e o terceiro marcado pelo retorno do herói e o reordenamento das coisas.
Em termos de forma, a Marvel Studios buscava aqui apenas a marcação de um conceito guia. E esse estava definido pelos efeitos visuais. Uma vez que esse segue sendo até hoje um dos traços mais fortes das obras do sub gênero. A “tela verde” nesse terceiro filme da Fase 1 vem mais para dar uma noção de complementaridade que em nenhum momento se sobressalta aos aspectos cênicos ou da dramaturgia.
Uma década depois, considerando o ano de 2020, olhar para Homem de Ferro 2 é perceber o quanto essas obras, a exemplo dos western spaghetti das décadas de 1960 e 1970, se reconfiguram ao passo dos anos que a sucedem. Não é como se elas envelhecessem com o tempo ou se tornassem obsoletas em função de uma dinâmica cronológica qualquer. Esses filmes resistem porque residem em algum nível referencial de ser.
As fórmulas hão de ser sempre pontos de orientação muito delicados em função do risco da pouca variedade e originalidade da produção audiovisual. Considerando o trabalho da grande indústria, a pouca diversidade nas propostas acabam-se tornando ponto de partida para projetos que subestimam a si mesmo e a seu público. O mérito de Homem de Ferro 2 encontra nesse meio termo sua força maior.
Ele não carrega consigo de forma arraigada ainda os vícios da fórmula Marvel no cinema, como os alívios cômicos desproporcionais. Ao mesmo tempo em que se encontra em uma espécie de barreira limite entre a desproporcionalidade de alguns de seus predecessores, como os problemáticos Homem de Ferro 3 (2013) ou Thor: o mundo sombrio (2013).
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