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Crepúsculo dos Deuses: um convite irrefreável do cinema da modernidade


Direção:Billy Wilder. Roteiro:Billy Wilder, Charles Brackett e D.M. Marshman Jr. Produção:Charles Brackett. Fotografia:John F. Seitz. Montagem:Arthur P. Schmidt. Música:Franz Waxman. Direção de Arte: Hans Dreier, John Meehan.



Crepúsculo dos Deuses (1950) é um dos maiores filmes já realizados na história do cinema. Mas por trás de toda história, há uma reflexão sobre as motivações e desdobramentos que determinam cada obra. Aqui, o exercício da cinematografia moderna norte-americana alcança um importante ponto de virada iniciado em 1941, mais especificamente, quando do lançamento de CIdadão Kane, de Orson Welles. Sobre esse definitivo rompimento é que a obra-prima de Billy Wilder fala, entre tantos outros grandes pontos de discussão.


Dirigido por Wilder escrito em parceria com Charles Brackett e D.M. Marshman Jr., o longa narra os eventos envolvendo Joe Gillis (William Holden), um roteirista de filmes B que desenvolve um relacionamento com perigoso com Norma Desmond (Gloria Swanson), uma estrela de cinema dos anos 1920 que vive uma crise de meia idade e que pretende retornar ao estrelato na controversa indústria dos anos 1950 de Hollywood.


Antes de ser um filme sobre filmes, esta é uma obra virtuosa. Feita com o coração, ela parte de proposições e percepções que claramente dão a ver as posições do autor de cinema enquanto figura indissociada do ato criativo do fazer artístico. Não é um projeto sobre a glória de um sistema passado ou vindouro. É uma tragédia que retrata uma percepção melancólica e crítica do mainstream norteamericano enquanto uma poderosa máquina tóxica de produzir ciclos sem fim de novos deuses e ídolos.


Notas isso ainda na primeira década dos anos 1950 foi um ato de extrema força e lucidez por parte de um realizador como Wilder. Ela era um autor já estabelecido no mercado estadunidense quando realizou esse seu 9º filme. Houve uma progressão, portanto. Uma escalada que o levou ao desenvolvimento de ums dos trabalhos mais definitivos daquela década. O interessante é notar que em nenhum momento o longa excede uma visão autoritária a partir das críticas por ele tecidas.


Tudo é relativamente autobiográfico e calcado em uma realidade que envolveu a vida desses artistas e seus trabalhos. Gillis é um roteirista de filmes independentes tentando a sorte na forte máquina americana. E assim como ele, Wilder também o foi no início de sua carreira. Do mesmo modo, a personagem de Desmond, aqui vivida por Swanson, também foi uma proeminente atriz da era do cinema mudo norteamericano.


Isso sem falar de outras construções como a do diretor de cinema que se torna mordomo ou dos atores e atrizes de uma era esquecida. Ou seja, Wilder utiliza da biografia de algumas das figuras que o cercaram no projeto para materializar esse componente fictício-biográfico no ato do cinema. Ele convida Erich von Stroheim, lendário diretor austríaco que realizou importantes obras nos cinemas dos primeiros tempos (1919-1940), bem como retoma figuras como Buster Keaton, Hedda Hopper e Anna Q. Nilsson interpretando eles mesmos diante da câmera.


Mas não há nada de exploratório na intenção de Wilder. Esse é um dos pontos mais distintos dessa obra. Não se trata de uma apreciação mórbida. Ela até soa como tal, mas o impulso que moveu o realizador foi a observação crítica mesmo. Porque o filme desde o seu primeiro nos instiga a olharmos para ele sem os filtros que a glamourização cinematográfica tende a impelir. Ele é direto na sua colocação. O protagonista está morto desde a primeira sequência. Lide com isso. Saber como isso se deu, é o convite para o desenrolar da narrativa.


Além de ter de abrir-se a uma estória de cunho bastante pessoal, você, enquanto espectador, terá de entrar no jogo que o autor lhe propõe. A aventura que você idealiza não necessariamente será a que se desenrolará na projeção. E se o herói está morto, é porque há algo mais emancipador do que a projeção vazia de ídolos em uma era de profundas transformações. Afinal, o que Crepúsculo dos Deuses nos convida é a esse mergulho num tempo onde a loucura e a lucidez devem ser parcelas de uma mesma variável. Esse foi o convite da modernidade no cinema nos fez.


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