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Close-up: a fabulação como ferramenta reimaginária do cinema



Direção:‌ ‌‌Abbas Kiarostami.‌ ‌Roteiro:‌ Abbas Kiarostami.‌ ‌Produção:‌ ‌‌Hassan Agha Karimi, Ali Reza Zarrin ‌Fotografia:‌ ‌‌Ali Reza Zarrindast.‌ ‌ ‌Som:‌ Ahmad Asgari, Mahammad Haghighi, Jahangir Mirshekari, Hassan Zahedi.‌ ‌‌Montagem‌:‌ Abbas Kiarostami.‌



É interessante notar o lugar de onde a cinematografia contemporânea iraniana usualmente partiu. Do final dos anos 1960 até meados de 1990, uma verdadeira revolução conceitual, técnica e política colocou o Irã em uma posição de distinção no círculo da realização audiovisual. Afora o desfavorável contexto interno, alguns realizadores conseguiram, mesmo no enfrentamento indireto, assinar obras que ultrapassaram as fronteiras que dividem a crítica do exercício subjetivo da arte. Entre esses trabalhos, listamos Close-up (1990).


Escrito e dirigido por Abbas Kiarostami, o longa rompe, já à época, com as arestas que a perspectiva de gênero pode restringir ao cinema. O filme é um documentário de uma estória de contornos tão fantásticos que poderia ser uma ficção. Por semanas a fio, Hossain Sabzian se passa por um reconhecido diretor de cinema a fim de obter pequenos favores e contar com a participação de uma família de classe média iraniana em seu suposto “novo filme”.


A experiência genérica, aqui, se transmuta. A ideia do filme se implementa a partir de outros códigos que não são aqueles partilhados, seja pela televisão, rádio ou mídia impressa. Ou seja, pelos meios de massa da última década do século XX. Kiarostami entende que, se o cinema não busca transpor os códigos e intenções dessas plataformas, ele apenas replica uma proposição esteriotipada de apreensão da vida. O filme surge como uma proposição antagônica a isso.


O seu trato com a realidade é de outra ordem. A captação desse coeficiente ultrapassa qualquer decisão de explorar a figura de Sabzian. Na verdade, Kiarostami faz aquilo o que os media colocam como visão: ele apresenta esse escopo do real a partir daquilo o que os envolvidos direto na situação tem a dizer ou dar a ouvir. A câmera, um dos elementos máximos da configuração do dispositivo cinema, não objetiva extrair a todo custo uma verdade perseguida.


Esse “real” está dado em consonância com a abordagem encenada que a obra propõe. O interessante é perceber que essas fronteiras dificilmente são notadas. A montagem, outra parte fundamental desse corpo fílmico, opera na esfera da invisibilidade. A transição entre a ficcionalização e a documentação da vida se torna imperceptível. Mas não por deixarmos de vê-la - pois a vemos - Sabzian existe, cometeu um crime aos olhos da justiça iraniana e passa a ser julgado por isso.


A ideia de julgamento, portanto, passa a conduzir uma outra linha conceitual possível do filme. E já que a narrativa se desprende dessa estrutura imobilizada, a trama passeia nessa costura de encenação e fio documental. É nesse fluxo entre a ida e vinda da estória, que avançamos. Mas não fazemos isso sozinhos, no lugar de onde o espectador opera. Esses personagens também estão, sequência a sequência, provocados a ir adiante. A família lesa, se percebe, aos poucos relutante, quando muito, está já dentro do escopo lúdico proposto (não imposto) por Kiarostami.


Entender e perceber isso é, de fato, fundamental para nossa relação com essa proposta de cinematografia. Não estamos lidando com o cinema enquanto ferramenta moduladora de emoções (somente). A estória desse protagonista é tocante, sim. Mas ela em nenhum momento é auto imposta. Esse “impostor” busca na fabulação do seu próprio “eu”, uma nova aba no modo como ele mesmo e sua família pudesse o ver. E na fuga dessa realidade é onde ele tenta se reimaginar.


Assista abaixo ao filme na íntegra




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