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Amnésia: A montagem como grau zero da experiência cinematográfica


Direção: Christopher Nolan. Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan. Produção: Aaron Ryder. Fotografia: Wally Pfister. Design de Produção: Patti Podesta. Música: David Julyan. Montagem: Dody Dorn.


O cinema narrativo, cujas linhas gerais guiam-se por traços de psicologismo, é uma das principais referências na obra de Christopher Nolan. Em seus primeiros trabalhos, como o curta Doodlebug (1997), o surrealismo foi uma vertente aperfeiçoada, a posteriori, em outros projetos que uniam o thriller e o filme policial. Foi a partir desses experimentos iniciais que o realizador britânico chegou ao projeto de curta-metragem Following (1998) e a partir dele, ao enigmático e pulsante “Amnésia” (2000).

Após tentar salvar a esposa de um assassinato, Leonard (Guy Pearce) sofre uma lesão cerebral que afeta o funcionamento da sua memória de curto prazo. Por não conseguir lembrar dos eventos que decorrem após o crime, ele recorre a um sistema de anotações por meio de fotografias e monta um esquema cujas pistas o levarão a encontrar o assassino.

É interessante pensarmos o filme como uma representação do que seria o cinema como montagem ou o recorte das imagens cuja união é a responsável pelo tom que a obra encerra. Nesse seu primeiro trabalho de longa-metragem, Nolan investiga bastante a ideia dessa cinematografia que toma o princípio da técnica de colagem dos anos 1920 aliada à narrativa contemporânea fragmentada e que se apresenta de “trás para frente”.

Nisso, o clássico e o contemporâneo se juntam na abertura de novas experimentações em termos de narratologia cinematográfica. Mas começando pela sua forma, Amnésia traz muito da estética do cinema policial e da atmosfera noir, com sua fotografia parte em preto e branco, parte colorida e estrutura quase capitular. Isso porque o longa parte muito da premissa do texto, no caso, o conto do roteirista Jonathan Nolan. Essa construção, no entanto, segue um parâmetro não-convencional, justamente por ser apresentada da última cena para o primeira.

O rompimento com a estrutura clássica ocorre por meio dessa quebra de convenção. A primeira sequência que vemos na tela é o desfecho da estória. O desenvolvimento dos fatos a partir daquele ponto é o que mantém a curva dramática em ascendência. Até entendermos como a trama se desenrolou de modo que nossas personagens chegassem naquele momento da narrativa.

Essa é, de fato, uma das primeiras e últimas obras de Nolan com uma estrutura tão enxuta. Nele, as elipses são empregadas de um modo que o diretor certamente não fez uso em seus projetos posteriores. O resultado é uma dinâmica que garante um ritmo bastante fluido no filme. Em 1 hora e 43 minutos de duração, ele conta tudo o que sentimos que a obra pode nos dizer.

Aqui, estamos diante da questão da metragem e de quanto ela define o objeto fílmico tanto em forma quanto conteúdo. Dificilmente o fato de o filme ter 3 horas de duração é aquilo o que assegura sua qualidade. A própria filmografia do realizador inglês é exemplo disso. Em Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2013) ou Interestelar (2014), notamos que as mesmas elipses que garantiram o refino de Amnésia são negligenciadas, tornando aqueles outros trabalhos muito mais cansativos e, em certos pontos, bastante previsíveis em suas 2 horas e 47 minutos de duração, em média.

O que discutimos em Amnésia é essa “aura”, sempre benéfica, em torno do cinema independente. E em como suas particularidades – entre elas o baixo orçamento – potencializam o traço criativo das obras. Seja por aquilo o que a equipe pode fazer de melhor com recursos limitados; seja por outros fatores, como o foco que se volta para a atuação dos atores e suas performances dentro da estória ou do modo como o roteiro original expande as perspectivas da abordagem conteudística e de técnica cinematográficas.

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