Direção: Fede Álvarez. Roteiro: Fede Álvarez, Rodo Sayagues. Direção de Fotografia: Galo Olivares. Produção: Michael A. Pruss, Ridley Scott, Walter Hill. Efeitos Visuais: Nelson Sepulveda, Eric Barba. Design de Produção: Naaman Marshall. Música: Benjamin Wallfisch. Direção de Arte: Sérgio Silveira, Lana Patrícia. Maquiagem: Annamária Dunai.
Sempre gostei da franquia Alien. Assim como gosto, a princípio, do modo o qual esse novo filme movimenta algumas ideias ao longo da sua estrutura. Numa realidade onde a humanidade vive em colônias e os sonhos dessas pessoas parecem inundadas por uma mancha cinza de poeira e desilusão (retornaremos a isso mais a frente), faz sentido esse ser, em parte, o desejo que leva a protagonista para a aventura.
O desejo de se ver o sol nascer ou se pôr surge como uma espécie de redução bem literal do contexto opressor daquele universo e se encaixa bem numa pegada mais humanista no modo de representar essas vidas, para além dos papeis historicamente propostos aos personagens dos filmes anteriores.
Problema é que, essa é uma abordagem referenciada no filme de modo contaminante. Tudo o que é apresentado para além do prólogo traz uma carga hiper dramatizada que nunca se ajusta ao conceito ou à atmosfera do que seria essa ficção-científica de horror contemporânea, por exemplo. E isso não parece ser um índice isolado. A distopia de guerra de Alex Garland visa a mesma cartilha.
Curiosamente também interpretado por Spaeny - garotinha do momento em Hollywood - é como se estivéssemos diante do mesmo arquétipo. A menina doce, ingênua, polida e aspirante a heroína ou final girl da trama é parte de uma mesma proposição.
Um estado de bom mocismo (no nível conceitual da coisa) e pieguismo/caretice mascarada em uma construção narrativa de conveniência incapaz de trabalhar qualquer nível de tensionamento ético elementar que seja. Mais do que sobreviver aos monstros, Rain e seu colegas encontram uma dificuldade imensa em elaborar situações-cinema mesmo.
Tudo remete a essa espacialidade claustrofóbica, sombria e enevoada de todos os demais filmes da série cinematográfica, mas a ambiência nunca vem acompanhada de um esquema que coloque esses jovens numa trilha de amadurecimento, por assim dizer.
Não aprendemos nada com esses personagens, ainda que esperar isso de um grupo de pessoas da geração Z/Alpha fosse até um pouco demais. Mas certamente a surpresa pudesse ser justamente essa. Retornando rapidamente a Alex Garland, entendemos o quanto ele fez isso muito bem com "Devs" (2020).
Mas aquela era uma outra proposta, cuja subdivisão da Fox, para televisão, parece saber melhor arriscar e entender esse coeficiente mais maduro no modo de lidar com as produções do que o componente do cinema em si atualmente o faz.
Retornando à Romulus, se há exatos 45 anos, Ripley atestou esse aspecto da heroína que se molda durante o processo, por que isso se torna tão mais complexo de ser implementado no storyteller dos nossos dias? Talvez uma possível resposta esteja na capacidade, ou na falta dela, do filme de Álvarez em lidar com essa dimensão do trabalho em si. De artesanalmente, quase, ir talhando uma nova figura de referência para a condução dos planos da Fox em manter a franquia em curso.
Isso, de todo seria, ou melhor, será feito, imposto, mas caberia um pouco mais de perícia nessa proposição. Sabemos que isso seria algo viável, mas na prática a lógica não se manifesta, se consolida. Por mim, eu mataria logo todas essas figuras, dos jovens adultos aos monstros daquela estação espacial, ao fim de tudo.
Tal qual um David Fincher revisionado, a mensagem seria precisa: numa Hollywood que se autofagocita da pior forma possível, melhor queimar de uma vez do que incitar simulacros narratológicos a partir de gatilhos nostálgicos gratuitos. O cinema de ficção-científica de horror precisa ir um pouco mais além disso, ou então, pouco poderá ser tomado como verdadeiramente relevante em uma leitura crítica futura.
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