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A paixão de Joana D’Arc: a síntese da expressividade humana


Direção: Carl Theodor Dreyer. Roteiro: Carl Theodor Dreyer, Joseph Delteil. Montagem: Marguerite Beaugé, Carl Theodor Dreyer. Direção de Fotografia: Rudolph Maté. Música: Jesper Kyd, Ole Schmidt.



23 de maio de 1431. Na França da Idade Média, uma jovem de 19 anos de idade passava por um duro interrogatório comandado por implacáveis teólogos e juristas. Sua condenação se dera em função das investidas junto ao exército francês contra a monarquia inglesa no conflito que ficou conhecido como A Guerra dos Cem Anos. Partindo desse rico cenário histórico foi que Carl Theodore Dreyer constrói seu inestimável “A Paixão de Joana D’Arc" ( 1928).


O aspecto documental é a principal marca do então nono filme desse importante realizador dinamarquês. A ideia do registro ou documento, portanto, são essenciais para entendermos esse trabalho. Apesar de não ser um documentário, a exemplo do que há mesma época faziam Robert Flaherty (1922), o longa se ancora nos arquivos contidos na França e que resguardam a história da militar e hoje padroeira desse País, Joana D`Arc.


Com base nisso, Dreyer cria sua visão da estória da santa e guerreira francesa. Os recursos a que ele recorre para desenvolver seu projeto são bastante exatos. Estamos diante de uma obra que define sua heroína cuja coragem a leva a encarar sozinha não somente os inquisidores da Igreja Católica, mas também a Justiça e parte da população da época. Vale lembrar Shakeaspeare, que como bom inglês, retratou Joana como uma bruxa em alguns de seus textos.


E foi para contrapor essa visão que A Paixão de Joana D`Arc aponta na linha do tempo da cinematografia moderna. Estamos em 1929, e portanto, importante entendermos os códigos que o cinema desse período descerra. As opções que o trabalho suscita são aquelas postuladas no limite entre o cinema pré 1928 e pós ao referido ano. Então, vamos às questões. Sendo a primeira delas ligada aos tópicos da montagem fílmica.


Em 81 minutos de projeção, o que vemos é já um  cinema mudo revestido de uma grande complexidade. Traço esse determinado pela grande quantidade de planos que constituem as várias sequências nas quais o longa é formado.  Dreyer vai direto ao ponto de seu interesse e escolhe o recorte histórico referente ao julgamento de Joana.  A metragem, por essa razão, é um ponto fulcral na perspectiva de como o diretor desdobra seu fazer cinematográfico.


Isso nos leva diretamente ao próximo ponto da nossa discussão. A forma do filme vai ao encontro do que o cinema moderno avistava. O quadro e toda potencialidade dele derivadas, tais quais observamos com o extra campo e a sua profundidade (Orson Welles/Jean Renoir) ainda não surgem em Dreyer. Por outro lado, é na captação da expressão humana onde reside o interesse da obra. A composição age para dar a ver aquilo o que os atores têm a exprimir na tela. Aqui é a emoção que fala.


Por isso a escolha por planos fechados, detalhes e close ups. Estar mais próximo da emoção que emerge de cada take foi o intento do realizador. O conteúdo é a forma fílmica cuja conversão desemboca na atuação do intérprete. E na imersão do processo o qual Joana se insere, vamos nós também nos inundando no martírio da personagem. E os olhos marejados e a brilhantes de Maria Falconetti vão aos poucos nos tragando, sem o esforço da estória imposta e que clama aceitação.


A medida que o processo da martyr se acentua, vamos igualmente nos convalescendo com a representação ali sugerida. Torcer por uma absolvição ou ponto de virada onde nossa heroína escapará da sua pena não nos são uma perspectiva.

Porque às portas dos anos 1930, o cinema de arte emerge com toda a perícia e conceito de estórias que potencializam o fazer artístico em detrimento ao entretenimento que não questiona, expande nosso próprio modo de olhar para a arte, de olharmos para o mundo.


Assista ao filme completo, abaixo:


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