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A Filha do Palhaço: o compromisso político diante das limitações fílmicas

Foto do escritor: danielsa510danielsa510

Atualizado: 30 de jun. de 2024


Direção: Pedro Diógenes. Roteiro: Amanda Pontes, Michelline Helena, Pedro Diógenes. Produção: Caroline Louise, Amanda Pontes. Montagem: Victor Costa Lopes. Fotografia: Victor de Melo. Direção de Arte: Thaís de Campos. Som: Lucas Coelho de Carvalho. Música: Cozilos Vitor, João Victor Barroso.


É um filme, de fato, bem menos complexo que seu antecessor, Pajeú (2020), e que concentra uma estrutura mais direta de abordagem tanto no nível da dramaturgia quanto no seu esquema conceitual. Pensando na obra como um todo, dentro de um contexto de desmonte de todo projeto cultural proposto no país, ela evoca esse ideal de resistência mesmo.


Do cinema como essa ferramenta de geração de emprego e proposição de ideias contra hegemônicas. Tudo isso é potência que reforça a relevância das produções feitas no Ceará, principalmente, refletindo sobre esse instante de curva do "cabo da boa esperança" onde o Brasil se insere na reta final de um período eleitoral tão crucial da nossa história recente.


Quanto a isso, é irrefutável o lugar assumido por um trabalho como esse segundo longa-metragem solo de Pedro Diógenes. Quando nos detemos aos aspectos práticos da criação, a decisão por esse corpus dramatúrgico que parece exigir mais do que aquilo o que parte do casting pode entregar aparece como uma redação quase automática.


Pensando a experiência da cinematografia contemporânea brasileira, poucas obras conseguem alinhar essa dimensão de modo orgânico e natural. Na verdade, essa não é de fato uma questão de naturalidade na prática da atuação.


A cartilha de grandes autores da historia do cinema como Hawks, Dreyer, Bresson, Nelson Pereira dos Santos, Júlio Bressane ou Straub e Huillet, nos provam que a austeridade no trato da atuação nada pode ter a ver com o fato de o ator ser mais "naturalista" ou realista na sua performance.


E esse nos soa como um considerável "calcanhar de Aquiles" de boa parte da experiência dos filmes feitos no Ceará ou do cinema cearense. Dessa ênfase no elemento dramático como uma saída única para a escala no uso da ficção narrativa. E o problema é que quando ela entra em ação, sua força se desmaterializa e lima justamente o impacto que a cena tanto desejaria ter.


A discussão entre dois personagens não necessariamente precisaria ocorrer na intensidade que muitas vezes observamos no filme porque testemunhamos logo na sequência seguinte o apaziguamento de toda uma tensão que dois minutos antes parecia sem resolução.


E esse parece-nos um ruído caro para a construção da autenticidade de alguns dos filmes feitos no nosso estado há algum tempo. Nos reportando aos trabalhos de um grupo mineiro como a "Filmes de Plástico", eles, por exemplo, parecem estar encontrando um tom muito positivo e promissor dessa vertente.


De um cinema que se percebe narrativo por excelência e que parte da proposição do gênero como base para validar suas intenções. "Marte Um" surge exatamente como um modelo desse estado fílmico nacional do futuro. Temos muitos estados dentro da nossa territorialidade, é verdade.


Essa diversidade de fatores é o que torna nossa cinematografia tão distinta. E Junto de outros trabalhos como "Os Últimos Soldados" (2021) e "A Praia do Fim do Mundo" (2021), ou "Tudo O Que Você Podia Ser" (2023), o novo longa de Pedro Diógenes se alinha a essa margem diversa de pensarmos nossas produções.

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